Sou quem lapida a pedra sabão;
que reflete luz d’outra constelação.
Eu sou quem tem compaixão;
dos que comem na palma das mãos;
dos que trafegam na insensatez da contramão;
dos que não me retornam párea afeição.
Sou quem resseca a face na força do vento;
ao prestar conta da fé resoluta.
Não sou quem sempre sonhei ser.
Tenho vergonha de não ser.
E o mal havido em me perder;
não foi por meu querer.
Eu sou quem abriga a razão;
nos ímpetos de intensa emoção;
tratando de secar com a própria mão;
a água de chuva açoitada no desvão;
que escorre imunda na parede e no vão;
e é retocada com minha dor e minha demão.
Chuva essa que cai em mim;
sou eu quem trata de secar.
e a tormenta que passou aqui;
fui eu que tratara de acalmar.
Sou eu quem carrega o peso de cavar;
sou eu quem carpe para plantar e replantar.
Também é minha a sacra missão de consertar.
Sou quem zela a emoção do abatido.
Sou eu quem cuida do ente querido.
Eu sempre velo o sono do meu melhor amigo.
Sou eu quem pisa firme no chão.
Sou eu um muro de contenção.
Que sonha o diálogo e a boa razão.
Sou eu quem persegue a notícia da palavra sensata;
e que aprende com a vida que a dura ofensa é que mata!
Eu sou quem o destino escravizou em prol do outro;
e costuro a ascensão e a carreira do douto.
Sou quem ensopa de angústia o travesseiro;
entrando na sombra dos anos primeiros.
Eu sou quem monologa com o Deus silente;
pra que eu me supere sempre e sempre.
Eu sou quem tem a medida justa;
Sou quem jamais relativiza a regra.
Sirvo de chacota para os homens sem lei.
Eu sou pobre, não tenho ilusão, eu sou nada.
Eu sou a mulher do Zé ninguém!